DECEPÇÃO, REVOLTA E INCONFORMISMO NO OUTRO LADO DA VIDA

A maioria das pessoas, principalmente as ligadas às religiões oficiais, ao desencarnarem, não aceita a complexa realidade do Outro Lado da Vida. Elas continuam querendo o céu fácil, o céu sem obras, sem mérito e sem renúncia, como é ensinado pelas igrejas, que insistem na lei do menor esforço, alimentando a ilusão de bilhões de fiéis espalhados por esse planeta. Isso acontece com os frequentadores das igrejas e outros templos religiosos de um modo geral, mas principalmente com as autoridades. É que eles veem, ou pelo menos querem ver, as instituições a que pertencem como as legítimas representantes de Deus na Terra. Orgulho puro! Mas a realidade não respeita dogmas e muito menos hierarquias religiosas. As leis do Pai Celestial são incorruptíveis e valem para todos, indistintamente!

Então, o que acontece? Muitos padres, freiras, bispos, cardeais, pastores e outras autoridades religiosas, do tipo intransigentes, ao desencarnarem, não encontram o céu que prometeram para eles, mesmo porque o céu fácil não existe. Percebendo-se desencarnados e não encontrando as facilidades que esperavam, muitos caem em profunda depressão e outros se deixam levar pela revolta e o inconformismo. A revolta às vezes é tão grande, mas tão grande que muitos espíritos de ex-autoridades religiosas, se amotinam e formam verdadeiras legiões nas regiões inferiores do mundo espiritual. Tudo com o objetivo de combater o Espiritismo e seus princípios, por entenderem, mas não aceitarem que não é a sua igreja, e sim a Doutrina codificada por Kardec, o outro Consolador prometido por Jesus. Muitos se tornam, então, espíritos obsessores com o objetivo de combater a verdade e opor-se a qualquer tipo de reparação. Outros, no entanto, nem mesmo percebem sua nova condição de espírito desencarnado, mas tem também aqueles que, mesmo conscientes de que “morreram”, apegam-se ao poder que exerceram na Terra e, através do medo e da coerção, utilizando conhecimentos bíblicos lideram verdadeiras multidões de espíritos nas regiões inferiores do Mundo Espiritual.

Mas por que isso acontece? Não seria lógico o espírito desencarnar e aceitar as coisas como são? Deveria, caríssimo leitor, mas não é o que acontece, uma vez que o livre-arbítrio é uma faculdade sempre respeitada e o ser humano é o mesmo, estando ou não no corpo de carne. A questão é que a morte do corpo carnal, por si só, não altera em nada os valores do espírito. A morte é simplesmente uma mudança de dimensão: de uma mais material para uma outra menos material. Apenas isso. E digo mais, princípios religiosos deturpados estão entre os mais difíceis de ser extirpados da alma.  Imagine, caríssimo leitor, o drama que é para um evangélico, por exemplo, deixar para trás todas as suas concepções de céu e inferno e ter que encarar a realidade do Mundo Espiritual, em todos os aspectos completamente diferente dos conceitos que vem sendo repassados para a humanidade há século. Não é fácil! Tem que ter muita humildade para aceitar as leis de Deus como elas são (reencarnação, evolução, lei de causa e efeito, entre outras) e se conformar com os equívocos da Teologia, em tudo fruto da imperfeita interpretação feita por homens igualmente imperfeitos.

O Vale das Religiosas ou Sacerdotisas

Um exemplo que ilustra muito bem esse espírito de inconformismo e rebeldia do Outro Lado da Vida, é o Vale das freiras rebeladas, descrito no livro “Infinitas Moradas”, do espírito Inácio Ferreira e psicografado por Carlos Baccelli. São três capítulos dedicados ao Vale das religiosas ou sacerdotisas. Ele é assim chamado por se tratar de uma comunidade de freiras que, após a morte, haviam se rebelado. Dirigido por uma entidade que se autointitula “papisa”, o Vale está localizado no Mundo Espiritual inferior (uma espécie de purgatório) e, segundo Inácio, é controlado por religiosas católicas de várias nacionalidades, mas em sua maioria brasileiras, italianas e portuguesas.

Inácio conta que ele e sua equipe (Odilon Fernandes e o ex-padre Sebastião Bernardes Carmelita) foram conduzidos a uma cidade que se espalhava do centro do Vale das Religiosas, estendendo-se até às encostas dos montes íngremes que a cercam. “As construções mais imponentes, em estilo gótico, inspiravam-se em motivos religiosos, à feição de pequenos mosteiros medievais e igrejas de paredes escurecidas e lúgubres; centenas e centenas de casas abrigavam em seu interior tão somente mulheres, valendo ressaltar que, dentre elas, não observamos uma criança sequer ou sequer um homem, excetuando-se alguns de aparência andrógina, que igualmente envergavam os hábitos característicos de diversas ordens”.

No livro “No interior da terra”, esse espírito de inconformismo é igualmente observado e descrito por Paulino Garcia que, também através da psicografia de Baccelli mostra, a partir do capítulo 28, a situação de alguns espíritos de ex-autoridades religiosas ligadas ao catolicismo, protestantismo e islamismo. Eles lideram, por meio do medo e do conhecimento da Bíblia, grupos de outros espíritos e se intitulam Clérigo, Pastor e Ulama. Um espírito chamado de o Pregador também é mostrado e é um provável médium que falhou em sua missão. Durante uma visita a uma estranha cidade do Mundo Espiritual inferior, em tudo quase igual a uma cidade de um país em desenvolvimento daqui da Terra, Paulino e uma equipe de espíritas em serviço de inspeção e auxílio observa favelas em condições precaríssimas, emendadas umas às outras, formando um cinturão de pobreza e miséria.

Paulino conta que uma parte da favela era liderada por um espírito que se autodenominava “Pastor”. Liderando uma comunidade de entidades que viviam à margem da lei dos homens e de Deus e, visivelmente descrente por não ter encontrado o céu que acreditava merecer, o “Pastor” dava a impressão de viver em permanente delírio. Com seus conhecimentos bíblicos impressionava e coagia seus liderados. Já o outro lado da imensa favela do Outro Lado da Vida era liderado por um antigo bispo da Igreja Romana, cognominado “Clérigo”. Também aí se observa uma profunda revolta de não estar, após a morte do corpo de carne, no paraíso prometido por sua antiga religião. “Estou farto de tudo. Toda religião é mentirosa. Todos são devassos como eu. O que conta é poder, dinheiro e prazer; a Vida, para mim e para os que mentem, se resume nesta trilogia”, dizia ele que, diante dessa complexa realidade pós-morte, se permitia vislumbrar: “Quem sabe, estejamos sendo vítimas de uma alienação coletiva, não é mesmo?”

Deixando a periferia, já dentro daquela cidade em tudo tão diferente das colônias descritas pela Literatura Espírita, a equipe de Paulino Garcia se depara com uma Mesquita e, próximo ao templo, um grupo de entidades comandadas por um ancião conhecido como “Ulama”, que significa o sábio. O representante dos islâmicos, mesmo diante da complexa realidade do Outro Lado da Vida, mantinha vivo seus equívocos e se mostrava igualmente intransigente, ainda enxergando Maomé como superior a Jesus Cristo. Em um rápido diálogo que trava com a equipe de Paulino ouve pela primeira vez na vida a palavra Espiritismo, continua não aceitando a reencarnação e outras leis de Deus e tenta convencer que o Islamismo é superior ao Cristianismo. No livro, Paulino mostra ainda um espírito conhecido na cidade como “Pregador”, provavelmente um médium espírita que se equivocou em suas ações na Terra, se comprometendo com as leis de Deus.

Sim, caríssimo leitor, tudo isso parece ficção, mas é uma pequena nesga da complexa realidade no Mais Além. E essa realidade vem sendo descortinada pela Terceira Revelação, que é Espiritismo. Começou com a Codificação da Doutrina, na Paris do século XIX, teve prosseguimento com Chico Xavier, e uma equipe de Espíritos Superiores diretamente ligados ao Senhor, em pleno século XX e, na atualidade, vem sendo esmiuçada em detalhes encantadores por diversos espíritos. Eles contam as mais diversas situações envolvendo espíritos desencarnados ligados às religiões oficiais e que formam, do Outro Lado da Vida, verdadeiro exército para trabalhar contra a verdade que eles se recusam a enfrentar.